Wednesday, January 20, 2016

A Vida por 1 Traço + Lupicínio Rodrigues

Wall Art










AZ & Lupicínio: Long-Hair Sofacouch Digitalstrayers (A/Z's Instagram post); 
"Merry Harbour" photograph (series), available with other photographs and drawings by A/Z at Fine Art America.
Potlatch invitation by A/Z;
[fonética que (só) é escrita] [escrita que não é (só) fonética], from Adriana Calcanhotto, Saga Lusa: o relato de uma viagem (Rio de Janeiro: Cobogó, 2008);
Berlin's Longest Running Dj on the Birth of Techno in 1989 (Vice News/Westbam, Youtube); 
Dr. Motte and Westbam - Love Parade 2000 (Youtube); 
Westbam, Hard Times (Youtube); 
Berlim Bonfim (Ney Lisboa/Hique Gomes, 1987); 
Lupcínio Rodrigues (Roteiro de um Boêmio, 1952); 

"... Se divisa a divindade,
extasiada em prazer,
dando viva à liberdade...
porque atrás fica o abismo
que ameaça vos tragar"
Serafim Joaquim de Alencastre
"Sabia que degollar es una especialidad gaucha?"
"El degüello tenía esse otro inconveniente. Despachaba el alma al infierno, al parecer."
El periodista miope (Vargas Llosa, La guerra del fin del mundo)

"She'll expose you, when she snows you
Off your feet with the crumbs, she throws you
She's ferocious and she knows just what it
Takes to make a pro blush"
Kim Carnes
"Si elle a vécu, nous avons dû souvent nous chercher mutuellement à travers l'immense labyrinthe de Londres;  peut-être, à quelques pas l'un de l'autre, distance suffisante, dans une rue de Londres, pour créer une séparation éternelle!"
Baudelaire/De Quincey (Les Paradis artificiels)
"Pero en Onetti todo ello tiene un horizonte realista, más terre à terre que en las pesadillas expresionistas de Arlt, que parecen inspiradas en los turbadores cuadros y caricaturas que el Berlín de los años veinte sugirió a George Grosz."
Vargas Llosa (El viaje a la ficción)

"For his part, Curtis' obsession with Germany stemmed partly from the Berlin chic of his glam heroes, Lou Reed, Iggy Pop, and David Bowie..."
Simon Reynolds
"There's something magical about a stage... You think of all your favorite people, such as the Doors, and you can't imagine them being the blokes next door. The stage is their church. That's what appealed about the intelligent side of glam, the fact that there was some kind of theater going on, a drama was being presented..."
Steve Severin (as quoted in Simon Reynolds's Rip It Up)
"Rudolf had a typically Teutonic sense of humor. It was a nihilistic, neo-expressionist, German-type of thing. He saw humour in... you know, things like vivisection and gum disease. Nothing was too shocking."
James St. James

"Dass die Kirche gerade mithilfe deutscher Schwerter, deutschen Blutes und Mutes ihren Todfeindschafts-Krieg gegen alles Vornehme auf Erden durchgeführt hat!... Der deutsche Adel fehlt beinahe in der Geschichte der höheren Kultur: man errät den Grund... Christentum, Alkohol — die beiden grossen Mittel der Korruption..."
Nietzsche (Der Antichrist)
"Dies war für Deutsche gesagt: denn überall sonst habe ich Leser — lauter ausgesuchte Intelligenzen, bewährte, in hohen Stellungen und Pflichten erzogene Charaktere; ich habe sogar wirkliche Genies unter meinen Lesern. In Wien, in St. Petersburg, in Stockholm, in Kopenhagen, in Paris und New-York — überall bin ich entdeckt: ich bin es nicht in Europa’s Flachland Deutschland…"
"Was war geschehn? — Man hatte Wagner ins Deutsche übersetzt! Der Wagnerianer war Herr über Wagner geworden! — Die deutsche Kunst! der deutsche Meister! das deutsche Bier!… Wir Andern, die wir nur zu gut wissen, zu was für raffinirten Artisten, zu welchem Cosmopolitismus des Geschmacks Wagners Kunst allein redet, waren ausser uns, Wagnern mit deutschen "Tugenden" behängt wiederzufinden. — Ich denke, ich kenne den Wagnerianer, ich habe drei Generationen "erlebt", vom seligen Brendel an, der Wagner mit Hegel verwechselte, bis zu den "Idealisten" der Bayreuther Blätter, die Wagner mit sich selbst verwechseln, — ich habe alle Art Bekenntnisse "schöner Seelen" über Wagner gehört. Ein Königreich für Ein gescheidtes Wort! — In Wahrheit, eine haarsträubende Gesellschaft! Nohl, Pohl, Kohl mit Grazie in infinitum! Keine Missgeburt fehlt darunter, nicht einmal der Antisemit."
"Man kommt beim Deutschen, beinahe wie beim Weibe, niemals auf den Grund, er hat keinen: das ist Alles."
Nietzsche (Ecce Homo)

"What would it mean to hear The Magic Flute as focused around Papageno and Papagena? Or to read Mahler's Ninth through its 'backward' (vulgar) elements, rather than hear those elements, as Anthony Newcomb does, as a means to create a 'forward-moving' teleology? To hear Beethoven's Seventh not in terms of a heroic composer drawing on dance elements in order to invent new 'characteristic' styles, but in terms of a dancing Low, who is composing Beethoven?"
Richard Middleton

"Vous connaissez au moins l'histoire de la marâtre qui tue Blanche-Neige parce que le miroir lui a dit que la petite était la plus belle?"
Carole (Les Samouraïs)
"Num determinado ano, fomos assistir três vezes porque Mary se apaixonou pelo patinador que fazia o papel do príncipe da Branca de Neve. No book do show que a gente ganhava na entrada havia o nome de todo o elenco, o dele era Dieter Langer, um alemão alto, lindo e loiro. Na terceira vez, depois do show, Mary tomou coragem e foi pedir autógrafo ao galã na saída do ginásio do Ibirapuera, onde a trupe embarcava no ônibus de volta ao hotel. A paixão se evaporou quando ela viu o príncipe loiro dando um beijo de língua no caçador da floresta, aquele que levaria o coração de Branca à madrasta."
"De Itaparica fui parar em Berlim, morei três meses na quitinete de um ator no morro do Vidigal, uma breve visita aos campos de papoulas do Afeganistão (hã?), e sei lá quanto tempo numa quinta em Portugal. Fora o resto. É possível que tais aventuras tenham sido viagens psicodélicas, flashbacks ou déjà-vus, sonhos lúcidos ou mediunidades. Ou não."
"Em Porto Alegre, quem fez lindamente a peladona foi uma loirinha bonitinha chamada Adriana."
Rita Lee 
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"Em 1952, época em que a indústria do disco não havia lançado ainda o microssulco entre nós, a 'Star' editou uma espécie de LP de pobre — o álbum "Roteiro de um Boêmio", um conjunto de 4 discos em 78 rotações, com músicas de Lupicínio: Eu e meu coração, As aparências enganam, Felicidade, Eu não sou de reclamar, Eu é que não presto, Sombras, Vingança, Nunca. Era a primeira vez que Lupicínio aparecia em disco cantando suas próprias composições. Depois desse extraordinário lançamento veio um verdadeiro LP, com o mesmo título (Copacabana LP-3014) e outras músicas de Lupicínio, também cantadas pelo compositor. E parece que foi só. Lupi, que quase não sai de Porto Alegre, já não grava mais. Tendo atingido o apogeu na fase de decadência e de transição da música popular brasileira que precedeu a revolução da bossa-nova, a obra de Lupicínio foi mais ou menos relegada à faixa do samba-canção bolerizado e descaracterizado, quando o seu caso não é realmente esse. Suas músicas podem lidar com o banal, mas não são banais. Cantadas o mais das vezes por intérpretes inadequados ao seu estilo, deixaram de ter o seu melhor e, em certos casos, o seu único intérprete: o próprio Lupicínio, como o revelaram os álbuns 'Roteiro de um Boêmio'. E eis a questão. A velha guarda não tem como incorporá-lo, a não ser na base do samba rasgado de Se acaso você chegasse, e as gerações mais novas, intelectuais e sofisticadas, não sabem como situar o aparente anti-intelectualismo das composições de Lupicínio e parecem não se ter dado conta do que e de como ele canta."
"Para mim, o caso de Lupicínio é mais ou menos como aquele de um outro Rodrigues, o Nelson. 'Ninguém enxerga o óbvio. Só os profetas enxergam o óbvio', diz o Dr. Camarinha, personagem de O Casamento. A linguagem de Nelson Rodrigues é, como ele próprio a definiria, 'o óbvio ululante', ou, como diria José é Lino Grünewald, 'o ovo do óbvio'. Não se poderá compreender Nelson Rodrigues (o escritor) com aprioris intelectualistas. Nelson é o anti-intelectual, o anti-Rosa, num certo sentido. Se, como quer Décio Pignatari, a poesia de Oswald de Andrade é a poesia da posse contra a propriedade, poesia por contato direto, sem preâmbulos ou prenúncios, sem poetizações, poesia que transforma o lugar-comum em lugar-incomum, Nelson Rodrigues — menos intelectual e mais possesso — tem algo de Oswald em sua antiliteratura, em sua presentificação bruta da roupa suja do diálogo cotidiano."
"Pois bem. Também os textos de Lupicínio se recusam aos aprioris. Também eles se notabilizam, embora de outra forma e com outros propósitos, pelo uso explosivo do óbvio, da vulgaridade e do lugar-comum: 'A vergonha é a herança maior que meu pai me deixou', diz ele num dos seus mais conhecidos sambas-canções. Enquanto outros compositores de música popular buscam e rebuscam a letra, Lupicínio ataca de mãos nuas, com todos os clichês da nossa língua, e chega ao insólito pelo repelido, à informação nova pela redundância, deslocada do seu contexto. Com esse arsenal aparentemente frágil — fundamentalmente o mesmo com que Nelson Rodrigues vira pelo avesso o recesso do sexo, na pauta diversa do romance ou do teatro — Lupicínio se dedicou, afincadamente, por toda a vida, a virar pelo avesso a 'dor-de-cotovelo' amorosa."
"O processo de envolvimento é total — dir-se-ia mesmo 'verbivocomusical' — e não pode ser seccionado sem perdas. Quem já ouviu Lupicínio cantando suas músicas (ou quem já o ouviu em 'Roteiro de um Boêmio', malgrado o acompanhamento retórico e lancinante do Trio Simonetti) sabe o quanto a sua voz e a sua maneira de cantar se ajustam às suas letras."
"Antes que João Gilberto inaugurasse um estilo novo de interpretação, o canto como fala, contraposto ao estilo operístico do cantor-de-grande-voz, que predominava até então, Lupicínio, sem que ninguém per- cebesse, e numa época em que ainda não haviam surgido as regravações de 'Noel cantando Noel' (1956) e ainda não se dera — salvo engano meu — o retorno de Mário Reis, apareceu com a sua interpretação de voz mansa e não-empostada — só levemente embargada—, que transmitia como nenhuma outra os temas do ressentimento e da dor amorosa, sem agudos e sem trinados."
"... Tudo começou no programa que, sob aquele título, ele fazia na Rádio Farroupilha. Depois, em São Paulo, as audições noite adentro na Rádio Record. E o êxito surpreendente, como cantor, na Boîte Oasis: dois meses de sucesso. Mais do que qualquer cartaz internacional. A noite paulista parava para ouvir a voz suave e embargada de Lupicínio. Depois daquela fase, só tem voltado a São Paulo esporadicamente. E há 5 anos que não grava. Resolvo cutucá-lo sobre a bossa-nova. Lupicínio resiste um pouco, diz que não a acha tão nova, a batida no fundo é a mesma. Mas admira João Gilberto. Conheceu-o no começo da carreira, em Porto Alegre mesmo, numa temporada em que JG apareceu por lá. Segundo Lupi, João Gilberto passava até fome por essa época. Ninguém o entendia. Ninguém o levava a sério. 'Antes de João Gilberto — diz Lupicínio — eu já cantava daquele jeito, quase falando. Mas não fui o primeiro. Antes de mim, Mário Reis, que, quando eu era criança, gostava de imitar'."
"... Lá pelas duas horas da manhã, o Clube dos Cozinheiros dá por encerrada a sua sessão. Todo mundo vai embora. Levantamo-nos, mas Lupicínio me segura pelo braço. Sentamos novamente. Lupicínio começa a cantar a paio seco, sem nenhum acompanhamento. Explica: 'Tudo o que eu canto é verdade. A minha vida'."
"Que Lupicínio Rodrigues não tenha, hoje, um ou mais álbuns de suas músicas, interpretadas por ele mesmo, com acompanhamento adequado, é um crime de lesa-musica do qual são cúmplices não só os que têm poderes para produzi-los como os que têm o direito de exigi-los: os meios musicais de São Paulo, do Rio e de Porto Alegre — os gaúchos, em especial, que às vezes parecem consentir na omissão de que é vítima o seu maior valor em música popular."
Augusto de Campos, "Lupicínio Esquecido?" (O Balanço da Bossa e Outras Bossas, Perspectiva, 1974);

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