Saturday, September 15, 2012

Tropicalismo: Brazil's most interesting "cultural movement" of the early 1970's










Telma Eu Não Suguei (Instagram Post, by A/Z); 
Back in Bahia (Gilberto Gil, 1972);
You don't know me (Caetano Veloso/Transa, 1972);
Como Nasce um Filme (Grostein Andrade on his movie about Caetano Veloso);  
Cajuína (by Caetano Veloso, A/Z singing, more about these videos here);
Realce (Gilberto Gil + Andrea Tonacci, by A/Z);
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"É claro que amo Caetano Veloso. É claro que
odeio aqueles que o atacam sem razão."
Gerald Thomas, Entre Duas Fileiras
"E o mano Caetano tá pra lá de Teerã,
De olho no sucesso da butique da irmã..."
Rita Lee
"We'd use hairbrushes for microphones and stand in front of the mirror and sing."
Bebe Buell (Please Kill Me)

"Minha ligação com esse pessoal todo, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, é nossa disposição de voltar a Oswald de Andrade. Oswald é o ponto de ligação entre o meu trabalho e Caetano, Gil, os poetas concretistas de São Paulo, que têm essa nova compreensão estética, e Fernando Coni Campos, Zé do Caixão."
Rogério Sganzerla (entrevista a Marcos Faerman, 1969)
"Minha família é da alta classe média baiana. A gente vê, não tenho mau gosto, me visto bem. Não sou nenhuma miserável da Bahia."
Helena Ignez (Pasquim, 1970)
"Calidoscopio donde un hombre con noción de la historia ve coexistir las lacras que han envilecido las distintas etapas de la humanidad."
Galileo Gall (Mario Vargas Llosa, La guerra del fin del mundo)

"[No final da década de 70] havia uma lei que permitia que as gravadoras multinacionais renunciassem de seu ICM (Imposto de Circulação de Mercadorias) apresentando contratos com músicos brasileiros. Ou seja, quanto mais os discos do Abba (as tais 'mercadorias') vendessem no Brasil, tanto mais Bethânia ou Caetano (os 'músicos brasileiros') engordariam o seu patrimônio, e não faltaram nesse período baluartes trocando de gravadora e ganhando apartamentos ou adiantamentos robustos, mesmo com suas vendas modestas, graças à renúncia fiscal..."
"'Eu sempre fui muito antenado com esse negócio do som', admite Liminha. 'Só que, até os anos 80, quando eu ouvia uma rádio pop, era flagrante a diferença entre uma música estrangeira e outra nacional. Eu ficava puto com isso.' A primeira vez que um disco brasileiro conseguiu romper esse abismo foi em Realce de Gilberto Gil... 'Mas ele foi gravado e mixado em Los Angeles, com os músicos do Toto, arranjos de metal escritos pelo Jerry Hey, do Earth, Wind & Fire. Era realmente uma covardia em relação ao padrão nacional.' Se a crítica odiou a fase discothèque de Gil, foi ali, pela primeira vez, que o cantor baiano ultrapassou a marca de 100 mil discos vendidos." 
Ricardo Alexandre (Dias de Luta)

"Anton Walter Smetak, suíço que adotou o Brasil em 1937, fixando-se na Bahia a partir de 1957, nasceu em 1913. É um ano mais moço que Cage. Seu primeiro disco (Philips 6349-110) só veio a ser gravado em 1974. Produzido por Roberto Santana e Caetano Veloso e montado por este e por Gil, o LP recebeu um tratamento excepcional até no seu aspecto gráfico, com a bela capa dupla que teve orientação visual de Rogério Duarte. Não fora o apoio dos baianos, provavelmente Smetak seria até hoje ignorado."
Augusto de Campos (Música de Invenção) 

"... ando bem desinteressado dos músicos brasileiros; só Jorge Mautner me interessa e Caetano pelas razões óbvias, apesar de não saber o que faz; ouvi coisas de Gil chatérrimas, supermoralistas e dando uma de pequeno-burguês culpado; como diz Neville, todo mundo quer ser Turíbio Santos: concertista 'sério'; odeio. Caetano é o único que pode viver rodeado de merda e sobreviver; mesmo assim a relação dele com 'platéias' está deteriorando e há umas duas semanas parece que houve um terceiro atrito e o show acabou na estréia: Caetano dando bananas e insultando a platéia que já está evidentemente motivada para agredi-lo. É a terceira vez num ano; acho isso grave; ele deve viajar: estão mimados e estragados e acreditam em "estrelismos" ou assumem isso em vez de brincar com a coisa; já Mautner, que é péssimo escritor, é ótimo letrista e não teme o ridículo; pelo contrário, usa-o para proveito positivo do que faz..."
Hélio Oiticica (carta a Lygia Clark)

Back In Bahia/ Gilberto Gil 1972
Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe dava por mim
Puxando o cabelo
Nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair
Naquela fossa
Em que vi um camarada meu de
Portobello cair
Naquela falta
De juízo que eu não tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência
De calor, de cor, de sal, de Sol, de coração pra sentir
Tanta saudade
Preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar
Do luar que tanta falta me fazia junto com o mar
Mar da Bahia
Cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar
Tão diferente
Do verde também tão lindo dos gramados campos de lá
Ilha do Norte
Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar
Por algum tempo
Que afinal passou depressa, como tudo tem de passar
Hoje eu me sinto
Como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo
De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá
Carlos Rennó, Gilberto Gil: todas as letras (São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 148).

Gil, Caetano and Chico Buarque:
"A gente trazia um dado... da visão de descontinuidade do processo cultural, uma visão do processo cultural como um processo extensivo, e não centralizado." Giberto Gil, in Celso Favaretto, Tropicália, Alegoria, Alegria (Cotia: Ateliê Editorial, 2007, p. 27).
→ Favaretto’s book should be read carefully. Although it presents an interesting interpretation of tropicalism, it has significant shortcomings such as a gross misunderstanding of what "formalism" meant to the the Brazilian concretist poets: "Embora convergindo com os concretos no projeto de modernidade, os tropicalistas deles se distinguiram por não permanecerem na mera atualização exterior das formas [sic]..." (p. 54).
"Já no final de 68, Gil estava com Sandra, a irmã de Dedé com quem ele começava um namoro, numa frisa do Teatro Paramount, onde se realizava uma eliminatória do festival da Record daquele ano. Um grupo de pessoas na plateia recebeu a entrada de Chico no palco aos gritos de 'superado! superado!'. Gil comentou com Sandra que aquilo era inadmissível. Levantou-se e investiu contra os manifestantes. Um jornalista quis ver — e assim publicou depois no seu jornal — que Gil havia liderado uma vaia ao Chico. Não li essa notícia e creio que Gil tampouco a leu. Ouvimos falar no assunto com um certo atraso. Hoje todo o mundo que escreve sobre os acontecimentos de então se compraz em dizer que havia dois lados que se confrontavam nesses festivais: um a nosso favor, outro a favor de Chico..." Caetano Veloso, Antropofagia (São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 36).

Mutantes and Fernando Pessoa:
"Na verdade essas caras tinham desaparecido quase todas, pois logo que os Mutantes iniciaram a introdução a maioria esmagadora dos assistentes voltou-se de costas para o palco numa demonstração um tanto assustadora (em retrospecto, admirável em seu ineditismo), no que foram prontamente imitados pelos Mutantes, que passaram a tocar de costas para a platéia. Quando, em substituição à declamação do poema de Pessoa, comecei a falar (a urrar, seria mais adequado dizer) de improviso, alguns espectadores, depois praticamente todos, viraram-se de frente para ver o que estava se passando." Caetano Veloso, Verdade Tropical (São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 296).
Ney Matogrosso about Caetano Veloso:
"Quando Caetano foi obrigado a ir embora do país, e o motivo apontado era o comunismo, eu sempre intuí que a razão não se restringia a uma política partidária e que o lance era muito mais amplo e sério. Caetano foi o primeiro artista que agiu profundamente no comportamento desse país, e talvez por isso tenha sido enredado em armadilhas mais palpáveis. Eu já vim numa leva depois, e eles nunca conseguiram me pegar pela política tradicional... além da enorme admiração que sinto pelo artista, sou eternamente grato ao Caetano..." Quoted by Denise Pires Vaz, Ney Matogrosso. Um cara meio estranho (Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora, 1992, p. 104-105).
Arnaldo Antunes about Tropicalismo:
"É sintomático o fato dessa revolução ter se dado no terreno da música popular, integrando alta voltagem de invenção com a comunicação de massas (em conexão com a moda, o design, as histórias em quadrinhos, a televisão, o rádio, o cinema e a cultura pop de uma maneira geral), em lugar da literatura e das artes plásticas, em torno das quais se articularam outros marcos da nossa modernidade, como a Semana de 22..." Outros 40 (São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 143).
Júlio Medaglia about Tropicalismo:
"Do arsenal sonoro e literário do Tropicalismo faziam parte a Bossa Nova e a Velha, a guitarra elétrica e o bandolim, a música medieval e a eletrônica, a música fina e a cafona, o portunhol e o latim, a música de vanguarda e a do passado, o baião e o beguine, o berimbau e o teremim, o celestial Debussy e Vicente Celestino, os versos de Cuíca de Santo Amaro e a Poesia Concreta, o som e o ruído, o canto e o grito, indo provocar terremotos, por extensão, no artístico e no cultural, no político e no social" Música Impopular (São Paulo: Global, 2009, p. 182-83).
"Quando Caetano e Gil saíram da prisão, fui visitá-los em Salvador. Num dado momento me relataram uma conversa que tiveram com um general da cúpula daquele sistema. Após mandar cortar seus cabelos, ele lhes disse algo assim: 'Vocês, com essa mania de fazer da realidade uma pasta informe, de demolir sistemas e valores, estão agindo com uma das formas mais modernas de subversão, talvez a única'. Ou seja. Os 'milicos' sabiam que o negócio era deixar a esquerda festiva musical com sua verborragia panfletária à solta e encaçapar aqueles que realmente ameaçavam as estruturas com outras armas, muito mais sutis e eficientes" (p. 183).
Luiz Tatit about Tropicalismo:
"O resultado mais expressivo do tropicalismo como movimento musical foi a libertação estética e ideológica dos autores, intérpretes, arranjadores e produtores do universo da canção, o que acabou por influir em quase todas as áreas artísticas brasileiras" O Século da Canção (Cotia: Ateliê Editorial, 2004, p. 59).

***NEW: Caetano Veloso's dangerous flirting with Losurdo's revisionism of Stalin: 


"Losurdo é um dos principais responsáveis pela atual onda revisionista sobre o legado de Stalin. Sua obra reconhece as violências do stalinismo, mas as justifica e as contemporiza, comparando-as com violências que teriam sido maiores na modernização capitalista. Na entrevista, Caetano diz que sua nova posição não é reação polarizada à ascensão da direita, mas a obra de Losurdo consiste justamente na redenção dos campos de concentração, dos assassinatos políticos e da perseguição aos dissidentes por meio da comparação com o regime adversário. Depois de denunciar com firmeza o autoritarismo da ditadura militar num depoimento oportuno, Caetano se rendeu à irresponsabilidade narcísica, incensando o stalinismo,"  [Losurdo is one of the main figures in today's revisionist wave on Stalin's legacy. His work recognises the violence of Stalinism,  but justifies and downplays it by comparing it to supposedly greater violence resulting from capitalist modernization. Caetano says his new attitude is not an antithetical reaction to the upsurge of right-wing politics, but the work of Losurdo amounts exactly to a redemption of the concentration camps, political assassinations, and persecution of dissidents, all underplayed in a comparison to the adversary regime. After resolutely denouncing the authoritarianism of Brazilian military dictatorship in a felicitous testimony, Caetano has surrendered to a narcissistic irresponsibility, consecrating Stalinism] (Stalin em Ipanema, Pablo Ortellado/Folha de São Paulo, 14/09/2020);

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