"Hat Jemand, Ende des neunzehnten Jahrhunderts, einen deutlichen Begriff davon, was Dichter starker Zeitalter Inspirationnannten? Im andren Falle will ich’s beschreiben..."
Nietzsche (Ecce Homo)
"Quem souber apreciar a cristalina, abstrata e rigorosa arquitetura dodecafônica, quase geométrica, de sua 'Suíte para piano'opus 25 ou de seu 'Quinteto de sopros', jamais poderá imaginar que a frase que se segue foi dita por Arnold Schönberg: 'Aquele que não possuir o romantismo em seu coração é um ser humano decrépito."
"Schönberg soube entender e mesmo exercitar muito bem o pathos wagneriano, mas, em vez de tentar espichá-lo ou 'modernizá-lo', como o fez Richard Strauss, ele provocou a sua imposão. Ao contrário de Debussy, que assumiu um radical distanciamento daquele estilo e técnicas composicionais, tecendo por fora e lentamente a sua contribuição renovadora, Schönberg provocou um envenenamento na engrenagem das formas, levando-as ao superlativo da expressividade, ao conflito, a uma neurótica impulsiva subjetividade onde o indivíduo situava-se como centro absoluto, intérprete e juiz do universo. A evolução desse comportamento espiritual, que veio desembocar em nosso século no expressionismo; que contou com figuras como Nolde, Kokoschka, Kandinsky, Chagal e Roualt na pintura; Wedekind, Werfel e Kafka na literatura; Wiene, Lang, Pabst, Dreyer e Murnau, no cinema, teve, em música, na obra de Arnold Schönberg, o seu carro-chefe."
Júlio Medaglia (Música Impopular)
INSÓNIA
Já sobre o coche de ébano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque, à luz vedado!
Jaz entre as folhas Zéfiro abafado,
O Tejo adormeceu na lisa areia;
Nem o mavioso rouxinol gorjeia,
Nem pia o mocho, às trevas costumado:
Só eu velo, só eu, pedindo à sorte
Que o fio, com que está minh'alma presa
À vil matéria lânguida, me corte:
Consola-me este horror, esta triteza;
Porque a meus olhos se afigura a morte
No silêncio total da Natureza.
VÍBORA
(Almeida Garrett)
Como a víbora gerado,
No coração se formou
Este amor amaldiçoado
Que à nascença o espedaçou.
Para ele nascer morri;
E em meu cadáver nutrido,
Foi a vida que eu perdi
A vida que tem vivido.
BARCA BELA
(Almeida Garrett)
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Oh pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Oh pescador!
ECO A NARCISO
(trechos de poesia de António Feliciano de Castilho)
Narciso, inda te escrevo: o amor de todo
no meu peito expiou, por teus repúdios,
mas fica em seu lugar ódio e vingança.
[...]
A Náiade gentil, que terno adoras,
és tu mesmo, é teu rosto impresso na água!
Amas a sombra vã do objecto que amo;
és de inútil amor como eu vassalo;
vive em ti mesmo o que ansioso buscas;
não o podes gozar; mas eu, perverso,
se não gozo o que busco, é porque foges,
qual de Fúria infernal, da terna amante.
A NOITE DO CASTELO
(trechos de poesia de António Feliciano de Castilho)
... Silencio,
solidão e terror vão de ora avante
ser da ponte, em vão baixa, e abertas portas
únicas invisíveis sentinelas.
Do cão nocturno o atroador latido
não irá mais nas salas espaçosas
acordar um só eco. Esse relógio,
que inda numera as horas da viagem,
vai deixar livre o tempo, que adormeça
sobre o alto cume das marmóreas pompas,
que o peso estragador lhe irão sentindo.
Da antiga, ilustre, extinta dinastia
a residência inteira se abandona
aos pássaros da noite, às plantas bravas.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A COSTUREIRA E O PINTASSILGO MORTO
(Tradução de Alexandre Herculano de um poema de Lamartine)
Tu cujas asas trêmulas
O meu olhar tornava;
Cujo trinado harmônico
Meus dias alegrava,
Ai, já não ouves!—Chamo-te,
Chegou a estação gélida;
Foi pra te matar.
Nunca me hás-de esquecer! Por bem seis anos,
Companheira leal
Tu me foste, avezinha;
Meiga entre as meigas, desprezando os campos,
Deslembrada da mãe, que, à noite, aninha
No móvel canavial.
A ti, afeita a mim, afiz-me em breve.
Meu único recreio
Era brincar contigo.
Ao veres-me encerrar no pobre alvergue
Gorjeavas, e o tédio o canto amigo
Volvia em brando enleio.
Meu amor te supria a liberdade;
Meus passos traduzias,
Meu gesto, meu falar;
Repetias-me o nome em teus modilhos;
Punhas-te a chilrear
Quando sorrir me vias.
Oh, que par! Que viver sereno e santo!
Estávamos tão bem!
Nosso parco alimento
Com a ponta da agulha eu mourejava,
E dizia cismando:—o meu sustento
Sementes várias dava-te co'a alpista,
E, qual ramalhetinho
Feito na orla do prado,
À 'splendida gaiola atar me vias,
Para debique teu, de erva um punhado,
De alface um tenro olhinho...
Se ao menos fosse lícito
Saberes que pranteio!..
Ai, foi em dia idêntico,
Que teu adejar veio
Fazer brilhar o júbilo
Neste triste aposento,
Onde em saudosa mágoa,
Sozinha te lamento!
*** See also:
- Cristovão Tezza haunted by Barthes;
- Concretos &/ou Brazilian Inteligentsia;
- Eduardo Viveiros de Castro: Brazilian Perspectivism?!
- Augusto Meyer and Machado de Assis;
- Icons of Romanticism (Brazil);
- Mario de Andrade, tel que je l'imagine (bricolage & fragments);
- Noite Morta (Manuel Bandeira, 1921);
- Favorite Drummond (with translation);
- Poème du retour: Paulo Leminski et l'éternel moustache de Nietzsche;
- Two invisible phanopoeias & a silence (by Arnaldo Antunes) + Alice Ruiz;
- O Primo Basílio de Eça de Queirós;
- Arcadisme et Romantisme au Portugal;
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