Rubem Valentim, Sem Título, Rio de Janeiro, 1961 (A/Z Instagram post);
Clementina e Albino Pé Grande (Foto original de Ronaldo Theobald/CPDOC Jornal do Brasil);A Coruja Comeu Meu Curió;
Me Dá Meu Boné;
Na Linha do Mar;
Assim Não Zambi;
Tute de Madama [I took this video out of Youtube, because I wanted to change it];
Boca do Sapo;
Atraca, Atraca;
Yaô;
Fui Pedir às Almas Santas;
Moro na Roça (Aracy Cortes);
Flor do Lodo;
Linda Flor;
Jura;
Sidney Magal (Meu Sangue Ferve Por Você, 1977) [this video was taken out from Youtube];
Robert Johnson: Sweet Home Chicago (Youtube);
Robert Johnson: The Complete Recordings (Evergreen/Youtube);
"Costurou na boca do sapo
um resto de angu
- a sobra do prato que o pato deixou.
Depois deu de rir feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira."
"Quem pede as alma as alma dá..."
"Flor do lodo
Mulher de baixos custumes
Ninguém ouve os meus queixumes
Ninguém vê meu padecer..."
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Assim Não, Zambi (Martinho da Vila)
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi
Eu não quero as crianças roubando
A veinha esmolando uma xepa na feira
Eu não quero esse medo estampado
Na cara duns nêgo sem eira nem beira
Asbre as cadeias
Pros inocentes
Dá liberdade pros homens de opinião
Quando um nêgo tá morto de fome
Um outro não tem o que comer
Quando um nêgo tá num pau-de-arara
Tem nego penando num outro sofrer
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi
Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi
Deus é pai, Deus é filho, Espírito Santo é Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Clementina é filha de Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi"
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"Quelé era mesmo uma biblioteca viva: guardava recordações de setenta anos, incluindo os cantos de trabalho e ritos de escravos, que sua mãe, Amélia, lhe ensinara. Por outro lado, simplesmente não conseguia memorizar uma letra de canção que aprendera havia poucos minutos."
"Sua cidade natal, Valença, foi marcada pela expansão do café no Vale do Paraíba fluminense e o subsequente fluxo escravocrata que ali se formou, fazendo do município um importante polo da cultura afro-brasileira."
"... a reforma urbana de Pereira Passos (conhecida como reforma Pereira Passos ou, ainda Bota-Abaixo), ao mesmo tempo que desenvolveu temas como saneamento, urbanização modernização do tráfego do Rio de Janeiro, também marcou o início de um traumático e excludente processo habitacional, representando o surgimento de muitas favelas cariocas."
"Clementina contou ter participado de uma batalha de confete no boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, zona norte do Rio. Foi em uma dessas brincadeiras que ela recordou ter visto o célebre cantor e compositor Noel Rosa... 'Noel tinha um carrinho, a capota arriadinha e a gente do lado de fora cantando com ele'."
"Contam os registros oficiais da Estação Primeira que a turma dos 'arengueiros' fundadores da escola consistia em uma pequena constelação de craques do samba: Cartola, Saturnino Gonçalves..."
"Para se ter uma noção do quão suntuoso era [a igreja do outeiro da Glória no Rio de Janeiro], oito. mil azulejos formando 61 painéis decoravam a sacristia, a nava, o altar-mor e o coro da igreja, em trabalho assinado pelo mestre ceramista Valentim de Almeida."
"Hermínio Bello de Carvalho, que morava ali perto, voltava da praia quando viu Clementina pela primeira vez. Hipnotizado pela voz, queria chegar até a roda de samba e conferir de perto de onde vinha aquele som."
"... na metade popular de O Menestrel, Clementina se apresentaria com o acompanhamento de César Faria no violão. Um dos maiores violonistas da história do choro no Brasil... iniciou sua carreira profissional em 1939. No ano de 1966 entrou para o consagrado conjunto Época de Ouro, de Jacob do Bandolim, no qual se notabilizou... também era acompanhado por seu filho, Paulinho da Viola, em shows e gravações. De acordo com Turíbio Santos, César Faria era a pessoa certa para acompanhar as variações de tom na voz de Clementina, uma cantora sem a rigidez técnica de seus pares."
"'De repente, os jornais começaram a dar alguma coisa de mim. Veja só. Fiquei meio invocada: meu Deus, que negócio é isso? Sabe que, primeiro, eu pensei até que era gozação? É que eu tenho 62 anos'."
"Mesmo com as divergências, Clementina descrevia Araci Cortes com admiração e fazia questão de se lembrar do ensinamento que recebia da experiente artista... 'Clementina, respire bem fundo, hein?' ou então 'entra firme, com força, com pose de artista'."
"Três nomes lideraram a comitiva [para o Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, Fesman]: o embaixador do Brasil em Gana... o folclorista, etnólogo e pesquisador de temas afro-brasileiros Eduardo Carneiro e o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais da instituição, Waldir Freitas Oliveira."
"Sophia ficou encantada com Clementina e mandou um buquê de flores para ela. Elas iam se entendendo meio em. espanhol, do jeito delas, e começaram a mandar flores uma para a outra. Conta-se que Sophia Loren gostou tanto daquela cantora brasileira que passou a se referir a ela como 'Mama'."
"Quelé era católica e adepta de terços e missas... Mas a marca feita a fogo que Clementina trazia no peito mostrava o envolvimento que teve com as religiões de matriz africana durante sua infância em Jacarepaguá, zona oeste do Rio."
"... o Rosa n. 2 produziria uma contribuição inestimável para a música brasileira ao trazer de volta à cena um dos mais respeitados nomes da música, Pixinguinha. Quase septuagenário e afastado do meio musical há cerca de uma década, ele teve presença garantida no espetáculo com duas composições."
"Em seguida, Quelé 'transportava os ouvintes para um ritmo de macumba, genuinamente africano', na definicão de Edson Carneiro, com as curimas 'Ogum Megê', 'Bendito louvado', 'Ó Ganga', 'Lá no mato tem. Ganga', e 'A Maria começa a beber', interpretadas em sequência no álbum."
"'O carnaval de hoje é muito diferente, só tem pula-pula, ninguém sabe sambas. O partido-alto é pouco divulgado e as escolas de samba só mostram coreografia. É carnaval pra turista.'"
"Clementina reforçava sua fé católica sempre que podia, mas se mostrou interessada em gravar a canção candomblecista de Caymmi desde a primeira vez que ouviu."
"O extravagante multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal também aprontaria das suas no Festival Abertura, abocanhando o prêmio de Melhor Arranjo com 'Porco na Festa'."
"'Eu acho que existe uma coincidência vocal pelo tipo de voz entre ela e o Louis Armstrong, que às vezes canta rouco, vai ao agudo e volta. Ela é o Armstrong do Brasil, de saias' [Turíbio Santos]."
"A africanidade também se via no jongo, dança de umbigada que Clementina ajudou a disseminar. Proveniente da região que atualmente engloba Congo e Angola, o ritmo chegou ao Brasil pelos bantos que se instalaram na região do Vale da Paraíba... Também chamado 'caxambu', foi a influência da etnia banto que mais marcou a cultura brasileira..."
"Em um dado momento ela conta ter ficado obcecada por um cantor romântico que estava em alta naquele ano. 'Sou fanzoca de auditório do Sidney Magal', declarou Quelé."
"'Já teve gente que combinou show comigo, eu fiz e depois eles fingiram que esqueceram e nunca me pagaram... Um dia os alunos de um colégio, o Franco [Liceu Franco-Brasileiro], vieram me convidar pra fazer um show lá. Eu fui e foi o maior sucesso. Depois eles me convidaram para fazer outro mas a diretora do colégio não quis deixar e não fiz mais o show. Eu pensei, a diretora que vá para o inferno e nem me lembrava mais. Um dia, olha que coisa mais bonita, os garotos apareceram aqui na minha casa. Eles se reuniram, arrecadaram dinheiro entre eles e vieram trazer meu dinheiro como se eu tivesse cantado."
"E formou uma memorável parceria com Adoniran Barbosa para alguns shows entre março e maio de 1980."
"Companheiro de Clementina dos tempos da Mangueira, Nelson Cavaquinho foi a atração surpresa do espetáculo."
- Felipe Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa, Raquel Munhoz, Quelé, a Voz da Cor. Biografia de Clementina de Jesus (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017) [a foto no alto da página, de Clementina com Albino Pé Grande (de Ronaldo Theobald do Jornal do Brasil), foi escaneada também desse livro, rico em material visual];
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"Contemplando o mapa africano, temos impressão de que esse continente está discretamente ligado ao Velho Mundo pelo isto de Suez, porém já sabemos das relações culturais entre o território africano, a Europa e Ásia..."
"O Reino de Aksum, do século I a X, os Impérios de Gana, século IV a XV, e do Mali, século V a XIV, viveram considerável desenvolvimento, chegando ao seu apogeu antes da expansão islâmica no século VII a XVII."
"Os Impérios de Mali, da Mauritânia e de Gâmbia crescem acentuadamente entre os séculos V e XVI; entre os séculos IX e XIV, o Songai desmembra-se do Mali, ampliando sua extensão do Senegal ao centro do Saara."
"Na região do atual Zimbabwe surge, entre os séculos XII e XV, o importante Reino do Monomopotapa, que se destaca como detentor da metalurgia do ferro, cobre e ouro, mantendo intercâmbio comercial com a Índia no que diz respeito a metais e marfim."
"Segundo Albert N'Goma, existem dois 'Islãos Negros' sendo que um chegou pelo mar, espalhando-se pela Costa Oriental do Continente Africano até as proximidades de Moçambique, e o outro expandidndo-se por terra, partindo de cima do Saara, espalhou-se pelo Bilad-es-Sudan. Este último de interesse imediato para o presente trabalho, visto suas relações com a escravidão no Brasil."
"Ronaldo Garcia afirma que para o Brasil 'de modo geral pode-se dizer que concorreram apenas dois grupos étnicos: o Bantu, com as suas diversas denominações tribais, para o Norte e para o Sul; o 'Joruba' ou Nagô, também içado de designações várias para o Centro..."
"Segundo Renato Mendonça, 'o sertão da África permaneceu até meados do século XIX um enigma geográfico..."
"A partir dos meados do século XVI, a região costeira africana banhada pelo Oceano Atlântico, situada entre Cabo Verde (Senegal) e Luanda (Angola), tornou-se reserva de escravos empregados nas plantações do Novo Mundo, situação esta que não se alterou por cerca de trezentos anos... Da soma de um milhão de africanos aprisionados pelos portugueses no início do século XVII, mais da metade tinha como origem Angola, Congo e Benin..."
"A Conferência de Berlim (1884-1895) estabelece as normas para a partilha do Território Africano, estimulando a ocupação e fixação de países europeus ávidos para o controle das fontes de matéria prima e do mercado... Este tratado estabelece também a divisão do Território Africano entre França, Bélgica, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal, que mantêm as possessões da época do descobrimento."
"Inicia-se uma relação de consumo de peças artesanais africanas, tendo os portugueses encomendado, no século XV, aos artesões do Benin, copos, saleiros e pimenteiros confeccionados em marfim..."
"Sempre chamou a atenção dos europeus a exuberante exibição de metais pelos negros africanos, em especial o ouro..."
"Desde antes de 1914, quando colecionadores e pintores modernos já haviam adquirido obras africanas, atribui-se a Mauricio de Valminck o mérito de ser o primeiro a reconhecer valor na arte africana."
"Este trabalho [Negerplastik de Carl Einstein]... aparece em Leipzig em 1915... uma obra de grande importância estética no referente à escultura africana..."
"Em 1921, Cendrars publicou uma Antologia Negra consagrada à literatura oral dos negros de diversas regiões da África, com textos mais amplos que os de Frobenius na coleção Der Sihwarze Dekameron, publicada em Berlim antes da guerra."
"Os negros africanos, em sua maioria, manifestam atenção especial ao aparato, ao cerimonial, onde a atividade estética manifesta-se integrada, configurada, em especial, nos festivais onde a exuberância de trajes e complementos evidenciam esse gosto, o que não elimina esta postura no cotidiano, através de cosméticos e adornos, escarificações e etiqueta nas relações humanas... A música, em parceria com a dança, desempenha importante papéis, não somente ritualísticos..."
"Objetos, os mais diversos, de utilização cotidiana ou ritual, estão adornados ou codificados por figuras, insígnias, ou motivos que carregam um sentido mágico-religioso."
"... a associação entre beleza e ritual deve-se ao fato da maior eficiência dos objetos mais belos, o que implicará no pleno agrado dos deuses invocados... o valor funcional dos objetos rituais... está intimamente dependente de uma qualificação estética."
"Essa arte das máscaras, que extrapola a pintura facial, é muito desenvolvida pelos negros localizados na selva, ou na savana..."
"Para execução de determinadas peças são necessários, além do conhecimento técnico, sensibilidade estética e o completo domínio dos procedimentos, que vão de precauções, oferendas, sacrifícios, amuletos, estado de abstinência, a determinadas práticas que inibem prejuízos decorrentes da manipulação inadequada dessas forças..."
"... longe do exercício ritualístico, a máscara deverá ser protegida dos olhos ou contato dos não-iniciados..."
"Outro material expressivo é o couro, em regiões de criação de ovelhas, e peles de animais decorrentes da caça, apresentadas, às vezes, em aplicações decoradas."
"No referente aos fetiches, a sua denominação derivaria da expressão portuguesa 'feitiço', que tomou o significado de encantamento ou sortilégio, amuleto, talismã, mascote... Esta expressão adquiriu um caráter pejorativo, mas sabe-se que é a tradução produzida pelos primeiros viajantes portugueses da palavra congolesa Nkisi."
"As esculturas obtêm o seu poder de força de determinados comportamentos ritualísticos realizados não só pelo executor, como, principalmente, pelo homem encarregado de sacralizá-las... esses objetos são portadores de ambivalência. Essas obras são utilizadas para ações terapêuticas ou pra provocar a doença, detendo desta forma, a enfermidade e a cura, disponível ao manipulador."
"A arte sacra africana é raramente monumental, sendo exceções os postes do Daomé e do Camarão, com dimensões consideráveis para possibilitarem uma visão à distância."
"Os africanos carecem de templos, possuindo satuários, nos quais a força divina ou ancestral é resguardada, preservada aos olhos, aprisionando-se energia mobilizadora de forças benéficas ou maléficas."
"Além da madeira e da argila, utilizadas na produção da estatuária, o artista da África Negra empregava, como material para sua expressão plástica, diversos metais. Dai a importância que dava o homem africano ao aprendizado das técnicas de fundição... O cobre, por exemplo, que é associado a uma determinada divindade... Ògún é ao mesmo tempo Òrìsà dos ferreiros, do ferro, da guerra e dos guerreiros... Entre os fon de Dahomey, é de grande importância Gu, o vudu — deus do ferro, herói civilizador e senhor da forja, patrono do ferro, inventor de todos os ofícios manuais."
"A República Federal da Nigéria, nação mais populosa da África, de religiosidade muçulmana em sua maioria, foi colônia britânica, alcançando sua independência em 1960, tem como língua oficial o inglês, porém conserva, nas relações interpessoais e grupais, outras línguas... entre elas, o Yorùbá."
"Identifica-se como Yorubano o grupo étnico que vive a sudeste da Nigéria e parte do Daomé... 'Egbás ou Yorubanos, nàgô, negros da Nigéria, que implantaram no Brasil prodigiosa influência intelectual, social e religiosa' [Iraey Caribé]..."
"É aí [Ilé Ifé, Nigéria] que reside o Ooní de Ifé, muito conhecido como o pai dos falantes do Yorubá, que emigraram na condição de escravos para Cuba e Brasil, e nestes países elaboraram, simbolicamente, uma expressão religiosa particular, chamada Candomblé."
"Já abordamos convenientemente Olódùmarè, deus supremo Yorùba, entidade que está acima dos Òrìsà, uma divindade inacessível, sem culto específico ou um lugar entre os Òrìsà. Esta qualidade de distanciamento, de inacessibilidade, faz com que o mesmo não possua representação material."
"Exu Elegbará-Èsù ou Elégbára, encabeça a listagem de entidades, ordem, esta, que remete à prática do culto, no qual esse Òrisà é saudado em primeiro lugar, devidamente justificado por razões mitológicas."
"Sangó tem, como símbolo, expressão de arte sacra africana, um machado de duas lâminas..."
"Yánsàn é a divindade dos ventos e das tempestades, patrona do Rio Niger..."
"Ganha destaque, no contexto da religiosidade africana, em especial em Cuba e Brasil, o Òrìsà Yémanjá-Yemoja..."
"Construído em 1452, o Forte de Arguim, na Guiné, garantia as investidas comerciais dos portugueses o Continente Africano..."
"A presença de negros, pardos e mulatos na pintura e na escultura brasileira do séc. XVIII é tratada por José Roberto Teixeira Leite em A mão afro-brasileira..."
"Esse vínculo com a África, através da aquisição de produtos para prática religiosa afro-brasileira, ainda se realiza até hoje, existindo casas comerciais especializadas nessas transações."
"José Flávio P. de Barros em seu trabalho voltado para classificação dos vegetais... procura identificar seus simbolismos e mecanismos rituais no ambiente das três principais casas de culto: Engenho Velho ou Casa Branca, Gantois e Òpó Àfònjá, situadas em Salvador, consideradas participantes do que convencionou-se denominar de Complexo Cultural Jêje Nagô."
"'Cada Ègun possui seus trajes característicos, que sugerem contornos de formas humanas' [Juana Elbein]."
"O Ègun Baba-Alépala, que se destaca no universo dos Baba-Àgbà, é particularmente temido, em razão do seu ilimitado poder..."
"Do ponto de vista da organização religiosa-administrativa, o Egbé [terreiro de candomblé] possui estrutura hierárquica, onde as funções são exercidas, mediante preparação iniciática, por sacerdotes de reconhecida competência, tendo na sua cúpula organizacional a Ìyalôrìsà ou o Babalôrìsà (Mãe-de-Santo e Pai-d-Santo)..."
"... o conteúdo masi importante do 'terreiro'é o Àsé, manifestado enquanto 'força que assegura a dinâmica da vida' [Juana Elbein], que permite o acontecer e o devir..."
"A palavra Àsé ganhou, ultimamente, uma amplitude que extrapola sua significação litúrgica, sendo comum ouvi-la, nos diversos segmentos sociais, enquanto saudação, surgindo até a expressão pitoresca de Axé Music para designar determinado estilo musical baiano."
"O Àsé é contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou não, simples ou complexos, que compõem o mundo. Os elementos portadores de Àsé podem ser agrupados em três categorias: 'sangue' 'vermelho' [por exemplo, sangue menstrual, azeite de dendê, mel, cobre, bronze], 'sangue' 'branco' [por exemplo, sémen, saliva, seiva, álcool, giz, prata], 'sangue' 'preto' [cinza, índigo]."
"A representação plástica, simbólica, do universo, da unidade entre o Àiyé [universo físico concreto] e o Òrun [espaço sobrenatural], é realizada por uma cabaça... Em decorrência dessa concepção, entenderemos o papel de Olórum, massa infinita de ar transformando-se em massa de água, originando Orìsànlá, o grande Òrìsà — funfun, Òrìsà do branco: o ar e a massa de água moveram-se e parte do seu material transformou-se em lama; dessa lama, forma-se um montículo, um rochedo avermelhado, Olórun sopra-lhe seu hálito divino, dando-lhe vida, sendo essa de existência individual, o proto Èsú... a água e o ar pertencem aos elementos — signos do sangue branco do Àse e a terra é condutora do 'sangue vermelho' e 'preto' do Àse."
"O conteúdo do Ígbá-Odú [cabaça que representa o Àiyé e o Òrun]... é considerado um segredo importantíssimo; revelá-lo poderá significar a morte, como também separar as suas partes significa o aniquilamento. O Igbá-Odú é, além disso, a síntese que contém os elementos-signos dos três 'sanges' do Àse — o branco (Efun ou giz), o vermelho (o Osún ou pó de coloração vermelha) e o preto (carvão vegetal, no caso da madeira, ou carvão mineral). Esses elementos, associados à lama — enquanto matéria-prima, obtida no fundo dos rios — representam os elementos essenciais para a existência individualizada."
"O três se evidencia nas representações geometrizadas produzidas através do desenho, pintura e gravação... Ainda levando em conta a representação simbólica geometrizada, Juana [Elbein] trata da relação entre o Èsù, o cone e o caracol, que simbolizam expansão e crescimento."
"Nàná, Náná Burúkú, Ná Burúkú ou Ná Búku, figura entre os Òrìsà genitores da esquerda, associada à terra, à lama e às águas... Juana [Elbein] lembra sua importância no Daomé, onde a mesma foi considerada como ancestral feminino de todas as divindades do Panteão, e na Bahia, onde, em certos casos, Nàná (Nanã) é colocada na mesma hierarquia que Òsàlá... quando manifesta-se em suas sacerdotisas, dança em movimentos lentos com extrema dignidade..."
"... desprovidos de seus componentes orgânicos, os moluscos, os cauris passam a simbolizar os dobles espirituais e dos ancestrais..."
"Oya está também associada ao ar, ao vento, à tempestade e ao relâmpago... Conhecida como Yánsãn na Bahia, tem poderes que a autorizam a ser a única a enfrentar os mortos."
"Uma outra característica é a comercialização dessas peças que, hoje, encontramos em lojas especializadas, porém sendo ainda encontradas nas feiras, a exemplo de São Joaquim, Sete Portas e Mercado Modelo, em Salvador... Sereias — Oxum, latinizadas, que atestam um certo sincretismo..."
"Obaluaiyé dança empunhando o Sásárá, com o qual simbolicamente varre as mazelas da terra, curando-a. Em outra versão mítica, esse Òrisã coça desesperadamente o seu corpo, contorcendo-se..."
"Òbà lúaiyé significa a putrefação, a transformação da matéria, tendo como símbolo o Sàsàrà..."
"Pierre Verger, baseado em ilustrações de Carybé, apresenta, de forma sintética, algumas características cromáticas e formas dos objetos do culto afro-brasileiro..."
- Jaime Sodré, A influência da religião afro-brasileira na obra escultórica do Mestre Didi (EDUFBA, 2006).
See also:
- Pau Brasil;
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